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Sustentabilidade: como assegurar que o board seja um bom exemplo?

Talvez a sustentabilidade não seja a primeira coisa que lhe venha à mente quando pensa em conselho de administração. No entanto, o termo engloba não apenas preocupações sociais, mas também ambientais e de governança.

Isso significa que falar em sustentabilidade é tratar de assuntos como – conforme aborda um artigo da Deloitte – desastres ambientais, relações de trabalho, incidentes de segurança e escândalos. Em outras palavras, a sustentabilidade desafia todos os setores e diretores.

Em escala global, há um crescente número de evidências que indicam que os fatores de sustentabilidade influenciam os retornos financeiros e apresentam uma oportunidade para gerar valor a longo prazo. Consegue entender como o assunto precisa fazer parte da agenda de discussão do conselho de administração?

Mas, como o board realmente se sente quando o assunto é sustentabilidade?

De acordo um artigo publicado no site da Harvard Business Review “How Board Members Really Feel About ESG, from Deniers to True Believers” (sendo que ESG é sigla para environmental, social e corporate governance), a reação dos boards ao tema sustentabilidade é bem variada.

Segundo os autores N. Craig Smith e Ron Soonieus, existem os negadores, os pragmáticos, os superficiais, os complacentes e os verdadeiros crentes. Para cada perfil de board, há uma ação a ser tomada.

Perfis e ações

Por exemplo, os negadores são os membros do conselho que acreditam que sustentabilidade não passa de um termo da moda. Para esse tipo de conselheiros e diretores, o tema deve ser abordado indiretamente, por meio de conceitos específicos e concretos, como redução de custos, oportunidade de negócios, demanda do consumidor ou exposição a riscos, em vez de noções abstratas de “o planeta” ou “gerações futuras”.

Os pragmáticos vêm a sustentabilidade como um fator que afeta seus negócios, mas que tende a ser reduzido ao raciocínio estratégico. “Sugerimos a nomeação de um diretor de sustentabilidade dedicado ou simplesmente diretores não executivos adicionais de outras indústrias, citando a necessidade de diversidade de pensamento”, cita o artigo.

Por sua vez, os diretores superficiais são bem-intencionados, mas costumam ter medo de assumir a liderança. A preocupação deles está mais em serem vistos fazendo a coisa certa do que realmente fazendo-a. A fim de lidar com esse perfil, advogue pela criação de um comitê de sustentabilidade.

Para os complacentes, o que foi feito no passado com relação à sustentabilidade já é o suficiente. Visando lidar com esse perfil, reconheça sucessos passados enquanto destaca as deficiências atuais.

Por fim, temos os verdadeiros crentes, que são, como você deve imaginar, os membros do conselho que realmente entendem o termo “sustentabilidade”. Na visão deles, a viabilidade econômica de longo prazo da organização está intimamente ligada e depende da responsabilidade social e ambiental.

Companhias com conselhos de crentes são aquelas que provavelmente têm produtos sustentáveis, cadeias de suprimentos éticas, sustentabilidade como critério para recrutar e remunerar executivos seniores, operações de baixo carbono; e um forte compromisso com a integração da sustentabilidade em P&D e inovação.

No entanto, de nada adianta ter um conselho de administração formado por diretores e conselheiros que acreditam na sustentabilidade se o próprio board não consegue dar o exemplo.

Como o board pode ser um exemplo de sustentabilidade?

Dos negadores aos crentes, a sustentabilidade é um termo que precisa ser colocado em pauta. Como vimos, de acordo com o perfil do board levará mais tempo para que o assunto tenha a importância que merece. Mas seja como for, é sempre hora de o conselho dar bons exemplos.

É importante que todos estejam alinhados com o significado da palavra. Se, em uma linguagem atual, a “sustentabilidade” é como uma abreviação para falar sobre a importância de manter o equilíbrio ecológico, evitando danos ao meio ambiente e impedindo o esgotamento dos recursos naturais, no mundo dos negócios e dos investidores a palavra passou a ser vista e medida de forma mais abrangente em três categorias distintas: ambiental, social e de governança (ou ESG).

Nesse sentido, as divulgações levam em consideração os três quesitos:

  • Ambiental: incluem emissões de gases de efeito estufa, uso de água, disposição de resíduos e outros.
  • Social: incluem diversidade, relações de trabalho, segurança de produtos, saúde e segurança dos funcionários, desenvolvimento comunitário e outros.
  • Governança corporativa: incluem ética, diversidade e composição do conselho, direitos dos acionistas, envolvimento da cadeia de suprimentos e outros.

Portanto, “um primeiro passo é entender as pontuações de sustentabilidade/ESG – como elas são derivadas, o que revelam e como devem ser usadas por várias partes interessadas corporativas”, explicam Silda Wall Spitzer e John Mandyck, autores de uma publicação intitulada “What Boards Need to Know About Sustainability Ratings”.

Eles ainda esclarecem que as pontuações de sustentabilidade baseiam-se nas divulgações da empresa nas três categorias ESG. Geralmente, quanto mais uma empresa divulga, mais alta é a pontuação ESG, afinal de contas, a transparência é parte essencial da boa governança e torna o comportamento corporativo mais mensurável.

Cabe aos membros do board conhecer, revisar e acompanhar as classificações de sustentabilidade de suas empresas. Os conselheiros e diretores devem entender como as pontuações foram obtidas.

Sustentabilidade e estratégia

É importante que o board conecte a sustentabilidade ao objetivo e à estratégia da empresa. Ao fazer isso, diretores têm também a oportunidade de usar a transparência para promover um envolvimento mais eficaz com os investidores.

Sobre a divulgação de pontuações citada anteriormente, para muitos conselhos falta o acesso às informações de sustentabilidade de que precisam. É o que sugere o texto da Deloitte, que diz ainda que ”essa lacuna é uma oportunidade para o conselho trabalhar com a gestão para definir o universo mais amplo de riscos e as partes interessadas críticas e determinar o que merece mensuração e divulgação”.

Já na visão de Spitzer e Mandyck, como a sustentabilidade tem sido cada vez mais abordada, os conselhos podem recrutar diretores com experiência no assunto. Com relação à supervisão, a mesma deve ser designada a um comitê específico do conselho.

“Os conselhos não podem perder o controle do contexto ambiental global que está sustentando a busca por essa transparência e interesse do investidor (..) Ao mesmo tempo, é possível criar oportunidades para novas tecnologias de economia de energia, novos modelos de negócios para fornecer melhorias de energia e capacidade adicional de energia renovável. A interrupção – pelas altas tempraturas, alimentos ou novas leis – faz com que os investidores pensem de maneira diferente. Os conselhos também devem pensar de maneira diferente”, opinam Spitzer e Mandyck.

Concluindo

Em muitos boards existe uma lacuna entre aspirações e ações, mas acreditamos que o processo natural seja que todos os conselhos de administração consigam tratar da sustentabilidade com o rigor que o assunto merece.

Em um mundo em que as expectativas das partes interessadas e os padrões de relatórios continuam a evoluir, o board pode – e deve – desempenhar um papel crucial na mudança das práticas de ESG da empresa e suas respectivas divulgações.

Como diz a publicação da Deloitte, para cada risco de falha em se atentar aos quesitos da sustentabilidade há uma oportunidade que pode ser explorada e trazer ganhos para a empresa.

E para continuarmos dentro do tema, que tal ver agora como alinhar sustentabilidade e gestão de riscos? Saiba neste artigo.

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Créditos imagem: Unsplash por Alexander Abero

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Patricia C. Cucchiarato Sibinelli
  • Diretora Executiva
  • Mentoria em gestão de negócios.
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